+ D. Eugênio Sales
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Os “Anos de Chumbo” e Movimentos Cristãos (II)
Prisões e torturas de leigos cristãos no Rio e São Paulo
Helio Amorim
José e Lya Sollero, foram coordenadores Nacionais do Movimento Familiar Cristão - MFC 1977-1980). Sollero, em São Paulo, e sua filha, foram presos por esse esquema militar repressivo nos anos da ditadura. Guida Sollero foi torturada no aparelho do DOI-CODI no Rio, mantida isolada por um ano da família que somente pôde vê-la na audiência da instrução do processo militar. Assisti ao seu depoimento perante uma junta de cinco oficiais militares e um juiz civil, sentados em mesa colocada num palco de auditório, para que a presa ficasse dois metros abaixo, ladeada por dois gigantescos policiais fardados, para completar o cenário de intimidação.
Guida foi libertada finalmente e trazida para casa de Mariana e Cyro Miranda, do MFC e ele seu advogado, recebida com festa e alívio pelas famílias da Comunidade da Barra da Tijuca, sem qualquer condenação, o que confirmava a barbárie gratuita que durou um ano.
Essa Comunidade, com dez famílias do MFC e outros movimentos cristãos, foi invadida por comando militar armado e teve também dois casais presos. Fernando e Letícia Cotrimforam presos sob acusação de pertencer a uma organização política denominada MPL (Movimento Popular de Libertação). Fernando sofreu o horror de ser obrigado a assistir às estúpidas torturas da esposa. Seu depoimento está na Revista Eclesiástica Brasileira (n.47).José e Zilda Villela foram presos pelo aparelho repressivo da aeronáutica por esconder Luiz Bustini, o filho de um amigo que, torturado, revelou o endereço do abrigo.
As pessoas que foram abrigadas na Comunidade foram muitas, enviadas pelas diversas organizações que já não tinham como fazer isso. A Igreja, vários padres, bispos, conventos e outras Instituições religiosas faziam isso também. Em dezembro de 1978, o Centro Ecumênico de Documentação e Informação, no Rio, coletou vasto material sobre a repressão sofrida pela Igreja naquela década. (1)
Cláudio e Lygia Campos, membros do MFC tiveram seu filho Cláudio, médico, também do MFC, preso e estupidamente torturado a ponto de baixar na UTI do Hospital do Exército, no Rio, depois de forçado a beber grande quantidade de água salgada, com danos graves nos rins. Seus pais foram chamados para entrevista pessoal pelo comandante da repressão militar, general Sílvio Frota, que os alertou sobre o risco de vida do filho por moléstia anterior à prisão. Queixou-se do custo elevado do tratamento que o Exército Brasileiro estava despendendo para tentar salvá-lo. Fui ao hospital e Mons. Trevisan, capelão militar, me relatou a verdade e a gravidade do caso. O jovem médico sobreviveu e foi absolvido de uma acusação irresponsável.
O MFC foi ainda perseguido com a prisão de Jorge Hue, presidente nacional do Movimento nos anos 60, e seu filho estudante. Fui à CNBB, ainda no Rio, relatei o fato interrompendo a reunião geral dos bispos que acontecia naquela manhã. D. Aloysio Lorscheider saiu do auditório, telefonou para o Gen. Frota, aos berros e socando a própria mesa, exigindo a imediata liberdade de Jorge. Foi atendido pelo general, constrangido diante do discurso nada eclesiástico do presidente da CNBB.
(1) Ver Documento Repressão à Igreja no Brasil, 1978, de D. Paulo Evaristo Arns e D. Tomás Balduino: "A máquina de tortura instalada no Estado não havia poupado nem sacerdotes”).
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