sábado, 13 de abril de 2013

Correio INFA 68


“Se você não for cuidadoso, os jornais farão você odiar as pessoas que estão oprimidas e amar as pessoas que estão oprimindo”. Malcon X

Ao longo do ano de 2012 vimos uma série de matérias na grande imprensa, televisionada ou não, que mostraram de uma forma muito difusa, ações de governos estaduais sobre grupos de usuários de crack. Descobrimos com um misto de pena e pavor as cracolândias. Observamos e até apoiamos estas ações. Não vimos seus bastidores, ou melhor, a TV nos mostrou muito pouco e discutiu menos ainda, dificultando nossa compreensão sobre esta dura realidade social. Paralisados em nosso medo, desejamos apenas que “alguém” resolva (ou remova) este problema.


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Lorene Figueiredo*
Sobre o crack, a internação compulsória e a importância social deste debate
Pronto! Foi aberta a temporada de caça e repressão aos usuários de crack. Mas muitas polêmicas e contradições estão encobertas pelo espetáculo midiático e convém por puro bom senso, desconfiar das saídas fáceis. Da famosa “porta larga”. Assim sendo, proponho, pelos limites deste texto, breves reflexões sobre o tema e sugiro alguns instrumentos alternativos de informação para aprofundamento.
A questão do crack em si.
Há uma enorme espetacularização do uso do crack que não guarda relação com a realidade do uso desta droga. Pesquisas recentes demonstram que o uso do crack existe concomitantemente ao de outras drogas ilícitas e que seu registro remonta aos anos 80. Além disso, não é possível homogeneizar e nem padronizar uma avaliação do uso e do comércio de drogas lícitas e ilícitas dada a diversidade social e histórica do país. O vício em álcool é de 74% e de tabaco 44%, além de ansiolíticos 5,6%, de maconha 8,8% e de cocaína 2,9%, sendo de crack 0,7% o dos entrevistados nas pesquisas que cito com indicação ao final do texto. O uso da expressão “epidemia” como vem sendo feito, amplia o estigma e a discriminação social, pois além de todos os preconceitos que esta população sofre, ainda é rotulada como portadora de uma doença contagiosa e letal (comparo ao que era feito com portadores de hanseníase até bem pouco tempo). Segundo pesquisadores da UFRJ o crack é mais popular e mais barato porque o custo de produção é menor, mas sua composição é basicamente cocaína. Esta no início do século XX era usada pela elite em festinhas privê enquanto a maconha era droga “de pobre”.
Enxergando para além do preconceito.
Em primeiro lugar a cracolândia não é o que parece. Os pesquisadores e os assistentes sociais   que trabalham com população de rua identificam que as condições degradantes de vida estavam presentes para esta população antes do advento do crack. Ou seja, a pobreza extrema, o desemprego, a falta de moradia digna, a sarjeta, a fome, as doenças infectocontagiosas, o estigma social, a precariedade da vida em toda a sua magnitude já estavam presentes. O crack chega como droga estimulante, antidepressiva, redutora do apetite e que mantém o ser humano acordado por mais tempo, o que é uma vantagem dada a vulnerabilidade na qual se encontram como população de rua. Ele substituiu como droga de preferência outras que eram utilizadas contra a dor física e moral produzida pela miséria.
A cracolândia, segundo os próprios pesquisadores e os usuários entrevistados, é um espaço de convivência cuja proximidade é a condição de usuário. Alguns ainda possuem casa e família e quando “surtam” vão para estes locais, ficam alguns dias e retornam para suas casas. A maior parte são pessoas para as quais a sociedade não tem nenhuma resposta, não tem nenhuma perspectiva ou projeto de vida e de realização. Isso sim é um drama terrível e nos coloca, juntamente com os governos que elegemos, na berlinda. O que temos a oferecer para uma multidão de jovens, na sua maior parte entre os 18 e 25 anos usuários de crack como possibilidade de realização pessoal e coletiva?
Em segundo lugar o crack não é a droga mais letal. Segundo as mesmas pesquisas o que mais mata esta população de usuários é justo a condição de vida degradante que acarreta a vulnerabilidade e permite a instalação de doenças oportunistas. Quanto aos equipamentos públicos de saúde e assistência ou são desconhecidos ou não estão abertos à estas pessoas. É muito comum o relato de preconceito social pela condição de morador de rua e também o entrave burocrático como a comprovação de endereço, apresentação de documentos etc.
Em terceiro lugar o que os governos vêm promovendo com a presença ostensiva da polícia e a internação compulsória é a repressão, a criminalização, o aviltamento da condição humana de quem já está em condição vulnerável. Apresenta como solução um trabalho de “limpeza” dos centros urbanos como se deslocar a população usuária fosse solucionar as questões mais profundas já apontadas. Trata-se de uma política higienista e elitista e não de um projeto de política pública e humanizador. Então, o que está por trás da questão?
Arriscando algumas hipóteses.
O governo federal decidiu criar um programa nacional de combate ao crack, como uma cruzada salvacionista, que liberou recursos da ordem de 4 bilhões de reais. Diante de escassos recursos destinados a saúde, as prefeituras começaram a declarar ter problemas graves com o crack. Há uma discussão inflacionada sobre este tema. A área urbana ocupada pelo crack em espaços de “revitalização” dos grandes centros urbanos coloca esta frágil população na linha de frente da especulação imobiliária e financeira diante do “bota abaixo do século XXI” que tem como “mote” os megaeventos.

10N

A origem de nossa elite é o tráfico negreiro e o latifúndio escravista, uma origem violenta e sanguinária. As polícias militares nascem para garantir os interesses desta mesma elite. Qualquer política que utilize como linha de frente a polícia militar estará marcada pelas funções repressivas que a constitui. Historicamente a população pobre do país sempre foi estigmatizada. Inicialmente o escravo fugitivo era o elemento perigoso, depois o capoeira, o homem negro pobre, o usuário de crack. As populações de periferia são todas tratadas como se fossem criminosos a priori. Não há meios de pensar políticas públicas inclusivas e que obtenham êxito a partir destes pressupostos.
O crack expõe o fracasso de todos os projetos de desenvolvimento e inclusão. É um espelho incômodo no qual temos que observar cotidianamente nosso fracasso como civilização. Neste contexto reflito e apresento como hipótese que vivemos uma cultura do medo e da punição cujo objetivo é nos isolar e nos impedir de enxergar os limites evidentes que as estratégias de valorização de capital colocam para as possibilidades de realização da vida em sua plenitude.
A “cruzada salvadora” contra o crack esconde a indiferença com as condições de vida e de trabalho da população pobre, as extremas condições de exploração do trabalho que existem hoje (a despeito das taxas de desemprego em queda, estamos falando de qualidade de vida e de trabalho); esconde a violência das expropriações em decorrência da especulação imobiliária e dos megaeventos (como no recente episódio do Pinheirinho que a mídia divulgou se tratar de uma cracolândia e não de um bairro de gente trabalhadora construído em um espaço de ocupação urbana); esconde a falência dos sistemas públicos de saúde e sua privatização, gerando o caos que observamos hoje; esconde o perverso mecanismo de controle social que a “desculpa” de reprimir o trafico do crack permite: avançar sobre a população pobre, contendo e impedindo que se manifestem pela insatisfação com suas condições de vida e de trabalho. Juntamente com os usuários de crack, todos os pobres estão sendo criminalizados.
A quem serve todo este estado de coisas?
O preconceito sempre foi a arma mais poderosa nas mãos da classe empresarial, dominante, para dividir, enfraquecer e dominar a classe trabalhadora. O preconceito racial, o machismo, a homofobia e agora o estigma sobre os usuários de drogas permite a dominação na medida em que nos impede de enxergar o que estas pessoas assim “classificadas” têm em comum: sua condição de explorados no trabalho e na vida, usurpados da oportunidade de viver experiências concretas de expansão de sua humanidade e de vida em comunhão. O que o debate sobre o crack nos permite é refletir sobre a miséria social. A miséria que é viver acreditando que a exclusão de milhares de seres humanos, trabalhadores ativos ou desempregados, das condições básicas de vida é natural. Quando algo sai do controle não podemos acreditar que a solução seja reprimi-los e obrigá-los a se internar sem criar uma rede de apoio, sem mudar as condições reais de sua existência. Isso não nos levará a uma sociedade melhor.

v  A pesquisa à qual me refiro é de André Antunes e está parcialmente publicada na Revista da Poli – FIOCRUZ- nº 22. Há versão on line; artigo “Crack desinformação e sensacionalismo”. Para saber mais: Agência Carta Maior – www.cartamaior.com.br; Revista Caros Amigos _ várias edições; Revista Forum _ várias edições; Revista da ADUSP – todas as edições on line; Site : www.apublica.org; Blog : Observar e absorver; Núcleo Piratininga de Comunicação – NPC; Blog : DocVerdade.blogspot – vários documentários; Blog: outras palavras – várias postagens sobre o tema; Site : diariodocentrodomundo.com.br; No youtube buscar vídeo : Domínio Público; e também The Shock Doutrine by Naomi Klein; Sites dos Núcleos de Estudos da Violência vinculados às Universidades Federais e Estaduais do país.

* Professora da Universidade Federal Fluminense nas áreas da Economia Política da Educação e da Política Educacional. Doutoranda em Politica Pública e Formação. Mestre em Educação na linha de pesquisa Trabalho e Educação pela Universidade Federal Fluminense, Licenciada em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora e Bacharel em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Sabedoria

*       Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente. (William Shakespeare)
*       Uma alegria tumultuosa anuncia uma felicidade medíocre e breve. (Plutarco)
*       Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber a sua simplicidade. (Mário Quintana)
*       A vida é feita de escolhas. Quando você dá um passo à frente, inevitavelmente alguma coisa fica para trás. (Caio Fernando de Abreu)
*       Voltar atrás é melhor que perder-se no caminho. (Ditado russo)
*      Não há arauto mais perfeito da alegria do que o silêncio. (William Shakespeare

Correio MFC 319


esde o surgimento da agricultura, quando o ser humano já não dependia da fase coletora e extrativa, tenta-se domesticar a natureza, impor-lhe limites, desviar o seu curso, exigir que ela siga, não suas leis intrínsecas, e sim a nossa lógica voltada ao lucro. Assim, represamos rios, reduzimos o ímpeto das marés, quebramos a escuridão da noite, logramos fazer voar o que é mais pesado do que ar.



Você acredita em milagres?

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Frei Betto
Escritor e assessor de movimentos sociais - Adital

A razão moderna desencantou o mundo. E a primeira vítima foi o milagre que a ciência tenta expulsar do mundo e da mente humana.
A crença no milagre revela certa noção de Deus. Seria ele como um encanador que, tendo cometido erros em sua obra, a todo momento precisa correr aqui e ali para corrigir defeitos imprevistos? Ele livra da doença os filhos preferidos e não os preteridos? Fica atento a quem mais emite súplicas e premia a insistência com o milagre?
A razão moderna considera que só a ignorância enxerga milagres na ordem natural das coisas. Milagre é quando se desconhecem as leis da natureza, assim como é mágica o que provoca e esconde o truque. O que hoje é tido como milagre será desvendado amanhã pela ciência, como faz o Fantástico em suas reportagens sobre a origem ordinária de fatos extraordinários?
Há teólogos que restringem a ação divina ao ato da Criação. Deus, ao criar, teria dotado a natureza de leis que, como o mecanismo do relógio, funcionam sem que o relojoeiro precise interferir. Se ocorrem imperfeições na Criação não é culpa de Deus. Há que buscar as causas na ação humana sobre a natureza e na nossa ignorância, que percebe como defeito o que para Deus seria mero e previsível efeito.
As Igrejas demonstram uma posição ambígua diante do milagre. Umas admitem a onipotência divina, o poder de Deus em operar mudanças substanciais no rumo natural das coisas e, ao mesmo tempo, miram com ceticismo qualquer evento que, por seu caráter extraordinário, é tido como milagre.
As Igrejas neopentecostais emulam a fé dos fiéis através de sucessivos milagres, em especial os que restabelecem a saúde. Já as Igrejas históricas suspeitam da profusão de milagres. A ponto de o Vaticano, nos processos de canonização, nomear um "advogado do diabo” incumbido de desmoralizar fenômenos nos quais a fé identifica origem miraculosa.
Muitos procuram em Deus a capacidade de operar milagres. Um Deus-mágico, capaz de tirar, de sua onipotente cartola, todo tipo de curas e bênçãos. Um Deus disposto, a todo momento, a contrariar e mesmo subverter as leis da natureza que ele mesmo criou. Um Deus criado à nossa imagem e semelhança...
O que fez Moisés, naquele mundo politeísta, para convencer o faraó de que Javé era um Deus especial, diferente dos demais? Apresentou-lhe uma série de milagres. E ao se convencer de que o faraó se mantinha obstinadamente apegado a seus deuses egípcios, então recorreu às sucessivas pragas.
O Deus-espetáculo é tão paradoxal quanto o Deus-utilitário. Enquanto no dólar americano está impressa a inscrição "In God we trust” (Nós confiamos em Deus), os soldados nazistas traziam inscrito na fivela do cinto: "Gott mit uns!” (Deus está conosco).
E o Deus de Jesus, está com quem? Onde ele fica em tudo isso? Jesus agia com discrição, pedia aos discípulos para não fazerem alarde quanto à identidade dele, e ao curar não atribuía o mérito a si, e sim ao fiel: "A tua fé te salvou”.
cristo crucificado t2
O verdadeiro milagre de Deus é a presença de Jesus entre nós. Presença nada espetacular (nasce numa estrebaria e morre assassinado na cruz) e incômoda (entra em choque com as autoridades religiosas e políticas).
Não era a ordem da natureza que lhe interessava mudar e sim o coração humano, para impregná-lo de amor, compaixão e justiça.
Desconfio da fé que necessita da muleta dos milagres para se sustentar. É a fé-bilhete de loteria: adquiro-a na expectativa de ser sorteado. Em nada mudo minha atitude. Fico à espera de que Deus mude a dele...
É frequente encontrar quem tenha fé em Jesus. O raro é se deparar com quem tenha a fé de Jesus, que o levou a se posicionar em defesa dos oprimidos e excluídos em nome de um Deus amoroso e misericordioso.
A vida humana é, sem dúvida, o maior de todos os milagres. Mas ele não nos causa impacto. Não cremos nele. Tanto que somos indiferentes a tantas vidas ceifadas precocemente pela miséria e a violência.
[Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Leonardo Boff, de "Mística e espiritualidade” (Vozes), entre outros livros. http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.




A força da esperança
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Manfredo Araújo de Oliveira
Doutor em Filosofia e professor da UFC.
Presidente da Adital

A semana santa é marcada pela celebração do que constitui o cerne da fé cristã: a morte e a ressurreição de Jesus. O objetivo é adentrar com outros olhos no enigma da existência humana. Isto significa que a festa da páscoa implica descer aos porões da vida humana e captar que há poderes presentes que ameaçam aniquilar tudo o que se almeja como bom em todos os projetos humanos.
O homem pós-moderno interpreta esta existência no horizonte da "perda de sentido”: aí onde a razão moderna encontra grandes soluções a partir de seu ideal de emancipação, a mentalidade contemporânea insiste no peso da vida dilacerada contra todo ideal o que se mostra dolorosamente nas situações de violência de todos os tipos: bilhões de pessoas vivendo em extrema pobreza, o massacre de crianças e adolescentes, a situação humilhante nos presídios, a discriminação de raças, as diferentes formas de opressão das mulheres, a intransigência cultural, a negação sistemática da diversidade, a rejeição da alteridade, a perseguição de minorias de raça, de sexo, de etnia, de dissidentes aos regimes, a sistemática destruição da natureza, drogados, aidéticos e todos os negados por uma sociedade que só tem tempo para seu consumo infinito, discriminações de todos os tipos, guerras criminosas. A finitude e a morte não escancaram a falta de sentido de tudo? A experiência da realidade humana se revela plena de sofrimento, de opressão, de infelicidade. Longe de qualquer fundamento, tudo parece caminhar para o puro vazio, o nada.
Que é, então, fé para os cristãos? Acolhida livre de que os eventos da páscoa são sinais da chegada da efetivação do que constitui o mais profundo da esperança humana. O grande sinal é a ressurreição: no seio da experiência da cruz irrompe o anúncio da ressurreição como interpelação a um olhar novo sobre a vida humana e a posturas novas capazes de transfigurar esta vida. No fundo da história está em jogo algo fundamental: a busca de realização do ser humano. O anúncio da ressurreição é a afirmação de que esta procura não é vã: abre-se uma possibilidade para uma vida com sentido. Falar de ressurreição significa falar de uma comunhão radical com Deus, que nem a morte consegue extinguir, portanto, falar da vitória da vida.
Esta palavra começa a ter credibilidade, quando gestos de ressurreição começam a fazer declinar as mortes sofridas, gestos que possuem a força de ir reconquistando a vida humana e fazendo degustar, nesta conjunção de regozijo e dor, as marcas de vida nova, de recuperação da justiça, da ternura, do gosto de viver e conviver.
Em nossa sociedade começa a fazer subversão quem partilha o pão, a vida, os ideais, quem ainda é capaz de se acercar com ternura de um doente, das prostitutas, dos abandonados, quem é capaz de acariciar uma criança, respeitar as mulheres, lutar por justiça! Quem sabe, tudo isto talvez seja um sinal muito frágil, mas ele já começa a dissipar as trevas de nossas vidas.
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Dostoievsky (1821-1881)
*        Os homens não se tornam ateus apenas, mas creem no ateísmo como em uma religião.
*        Creio que não existe nada de mais belo, de mais profundo, de mais simpático, de mais viril e de mais perfeito do que o Cristo. Se alguém me provar que o Cristo está fora da verdade e que esta não se acha nele, prefiro ficar com o Cristo a ficar com a verdade.
*        As coisas mais insignificantes têm, às vezes, maior importância e é geralmente por elas que a gente se perde.

Leon Tolstoi
*        Há quem passe pelo bosque e só veja lenha para a fogueira.
*        Cristo mostra ao homem uma perfeição impossível de ser atingida, mas à qual ele aspira do fundo do seu coração. É mostrado ao homem um ideal, do qual o homem poderá sempre medira a distância que o separa. A doutrina de Cristo se parece com um homem que traz uma lanterna diante de si na ponta de uma vara, mais ou menos longa: a luz está sempre diante dele e lhe revela a todo momento um espaço novo que ela ilumina e que vai caminhando com ele.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Correio MFC 318 Feliz Páscoa

Caríssimos amigos leitores e leitoras
O Movimento Familiar Cristão lhes deseja e às suas famílias nesta Páscoa, festa maior da nossa fé, paz plena, esperança sempre mais viva e acima de tudo a vivência da caridade transformadora, numa sociedade ainda injusta e dividida.

É tempo de Páscoa
Extraído de profética mensagem de José Lisboa Moreira de Oliveira*


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A Carta aos Colossenses afirma que a pessoa cristã já vive como ressuscitada e, como tal, é convidada a comprometer-se com ações que expressem o essencial dessa condição que é a prática do amor ao próximo (Cl 3,1-17).
Isso nos autoriza a dizer que a celebração da páscoa cristã, enquanto memorial da paixão, morte e ressurreição de Jesus, precisa ser traduzida em atos e gestos concretos de amor ao próximo, distintivo único e fundamental da identidade do discípulo e da discípula de Jesus (Jo 13,15).

Assim sendo, a celebração da Páscoa deve ser uma verdadeira primavera que expulse todo e qualquer mofo e frieza da Igreja e a faça pulsar de vitalidade e de acolhida da vida. Não cabe celebrar a Páscoa num contexto de rigidez e de falta de misericórdia, num ambiente em que as leis e as normas estão acima da vida das pessoas (Mc 3,1-5). Não haverá Páscoa de Jesus numa Igreja que condena e discrimina certos filhos e certas filhas de Deus; que reserva os bancos de seus templos para aqueles que se autoproclamam perfeitos e merecedores do céu. Além disso, a Páscoa deve ser a festa da libertação dos pobres e dos oprimidos. E não se trata apenas de uma falsa libertação "espiritual”, cuja recompensa é uma vida futura, programada para depois da morte. Trata-se, como nos mostra a experiência do Êxodo, de uma libertação a ser realizada aqui nesta terra. Uma libertação que inclui terra, casa, comida, emprego, saúde, escola etc. E para celebrar esta Páscoa os cristãos e as cristãs precisam, como Javé, ver a opressão, descer até o submundo dos pobres, sentir o cheiro da pobreza, tocar com os pés e as mãos os sofrimentos dos injustiçados e excluídos e permanecer comprometidos com as suas lutas por dias melhores (Ex 3,7-10).
*José Lisboa Moreira de Oliveira. Filósofo. Doutor em teologia. Ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB. Ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. É gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília.


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Poesia viva
Thiago de Mello, poeta nosso do Amazonas, em tempos de chumbo, atos institucionais, exílios, prisões, torturas e mortes, proclamou corajosamente...



Estatutos do Homem
(Ato Institucional Permanente)                 Thiago de Mello
Artigo I 
Fica decretado que agora vale a verdade.
agora vale a vida,
e de mãos dadas,
marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II 
Fica decretado que todos os dias da semana,
inclusive as terças-feiras mais cinzentas,
têm direito a converter-se em manhãs de domingo. 
Artigo III  
Fica decretado que, a partir deste instante,
haverá girassóis em todas as janelas,
que os girassóis terão direito
a abrir-se dentro da sombra;
e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,
abertas para o verde onde cresce a esperança. 
Artigo IV  
Fica decretado que o homem
não precisará nunca mais
duvidar do homem.
Que o homem confiará no homem
como a palmeira confia no vento,
como o vento confia no ar,
como o ar confia no campo azul do céu. 
        Parágrafo único:  
        O homem, confiará no homem
        como um menino confia em outro     menino. 
Artigo V  
Fica decretado que os homens
estão livres do jugo da mentira.
Nunca mais será preciso usar
a couraça do silêncio
nem a armadura de palavras.
O homem se sentará à mesa
com seu olhar limpo
porque a verdade passará a ser servida
antes da sobremesa. 
Artigo VI  
Fica estabelecida, durante dez séculos,
a prática sonhada pelo profeta Isaías,
e o lobo e o cordeiro pastarão juntos
e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora. 


Artigo VII  
Por decreto irrevogável fica estabelecido 
o reinado permanente da justiça e da claridade, 
e a alegria será uma bandeira generosa 
para sempre desfraldada na alma do povo. 
Artigo VIII   
Fica decretado que a maior dor
sempre foi e será sempre
não poder dar-se amor a quem se ama
e saber que é a água
que dá à planta o milagre da flor. 
Artigo IX  
Fica permitido que o pão de cada dia
tenha no homem o sinal de seu suor.  
Mas que sobretudo tenha 
sempre o quente sabor da ternura. 
Artigo X  
Fica permitido a qualquer  pessoa,
qualquer hora da vida,
uso do traje branco. 
Artigo XI  
Fica decretado, por definição,
que o homem é um animal que ama 
e que por isso é belo,
muito mais belo que a estrela da manhã. 
Artigo XII   
Decreta-se que nada será obrigado 
nem proibido,
tudo será permitido, 
inclusive brincar com os rinocerontes 
e caminhar pelas tardes 
com uma imensa begônia na lapela. 
        Parágrafo único: 
        Só uma coisa fica proibida:
        amar sem amor. 
Artigo XIII  
Fica decretado que o dinheiro
não poderá nunca mais comprar
o sol das manhãs vindouras.
Expulso do grande baú do medo,
o dinheiro se transformará em uma espada fraternal
para defender o direito de cantar
e a festa do dia que chegou. 
Artigo Final.   
Fica proibido o uso da palavra liberdade, 
a qual será suprimida dos dicionários 
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre 
o coração do homem.