segunda-feira, 5 de novembro de 2012

CORREIO MFC 295



Paternidade/maternidade 

pós-modernas

Deonira L. Viganó La Rosa

Terapeuta de Casal e Família. Mestre em Psicologia

As motivações, ambições e estilo de vida de nossos pais pouco têm a ver com os dos novos casais. As mudanças têm afetado o conceito de família e os papéis que exercem seus integrantes. Mudanças significativas aconteceram com o homem, acostumado a uma tradição machista, e agora vivendo uma relação de igual para igual com a mulher, embora ainda reste longo caminho a percorrer neste sentido


Transtornos atingiram também as mulheres ao se profissionalizarem e saírem de casa para gerenciar a coisa pública.

Neste novo contexto, o homem se envolve mais em tudo o que diz respeito aos filhos, o que é muito bom. Mas toda vantagem traz desvantagens, e o que temos agora são dois caciques na mesma tribo, e os conflitos começam. Cada um tem mil razões para querer fazer as coisas à sua maneira. Surgem as discussões e muitas mulheres têm dificuldade em aceitar as escolhas do companheiro e o jeito como ele ajuda. Usa estratagemas para fazê-lo entender que ela é quem sabe e pode e que ele molesta um bocado


O que ouço nos encontros de casais-noivos

Coordenando a conversa de um grupo de casais-noivos em encontro de preparação ao casamento, pude, mais uma vez, perceber o quanto está difícil para o casal a decisão de quando ter seu primeiro filho. E o que fazer com ele depois.

Tenho constatado nestes encontros que o homem quer ter o filho logo, alega que se demorar mais ficará velho com filhos pequenos e não terá vontade de brincar com eles, será menos paciente, ou desistirá do dever de dar-lhes os tão necessários limites.

Por sua vez a mulher rebate dizendo não estar ainda preparada. Precisa de tempo para uma série de exigências relativas à sua profissão, às melhorias na casa ou apartamento. Sabe que ficará sobrecarregada e que terá de renunciar a confortos e até a coisas importantes do seu dia a dia, muito mais do que o marido, e não está disposta. Treme frente à possibilidade de os dois não terem estrutura para criar e educar o filho. E as questões dos cuidados com o corpo também entram.

Ouvi casais onde ele quer que ela suspenda por um tempo seu trabalho e tenha o filho e/ou o acompanhe em mudanças exóticas que deseja para sua realização pessoal. Aí vem a séria questão: Como equilibrar projetos pessoais e projetos de casal? Quando e quanto ceder sem tornar-se submisso(a)?. Como permanecer “um”, tornando-se “dois”?

Observo que tanto marido como mulher sofrem perante este impasse. E a sociedade está pouco preparada para dar-lhes amparo.


Sem renúncias não há casamento e nem filhos

Toda escolha requer optar por alguma coisa e renunciar outras tantas. Ninguém pode ser solteiro e casado ao mesmo tempo, ter filhos e não tê-los, ao mesmo tempo. Toda escolha envolve ganhos e perdas. Se a opção é por ter filhos, o casal vai ponderar o que esta escolha envolve: o que terá de deixar de lado e que coisas novas terá de assumir.  Quem fará o que.

Não se trata de renúncias que violem o próprio ser (essas jamais deverão ser aceitas), mas trata-se de renunciar coisas que podem ser muito boas, mas que impedem o casal de viver prazerosamente seu projeto comum e o impossibilitam de ter, cuidar e conviver adequadamente com filhos.

Agora, esta história de preparar-se primeiro é uma questão muito relativa. Sim, é preciso ter condições emocionais, físicas e econômicas fundamentais, tanto para casar como para ter um filho, mas, qualquer que seja a função que exerçamos, vamos nos fazendo ao andar. Isto é, ser pai e ser mãe é um aprendizado, um processo que vai se realizando durante a caminhada. Antes da geração do filho não é possível encontrar a perfeição da maternidade ou paternidade. Aliás, perfeição nunca será alcançada. Gosto de citar a canção: “Caminante, no hay camino, se hace camino al andar”.

Dar aos filhos um tempo de qualidade

Pai e mãe trabalhando o tempo todo é bom, pois assim podem dar ao filho um ar condicionado de qualidade, um bebê conforto de luxo, um leite caro, roupas lindas, melhores escolas. A parte negativa disso é obvia: passam pouco tempo com os filhos. Ou os cuidam os avós, ou os levam a creches em tempo integral. Definitivamente, os filhos podem estar sendo cuidados por tantos outros, menos pelos pais. Falta-lhes tempo de qualidade com os filhos. E é bom lembrar que não é possível educar sem conviver. Faz pensar

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