sábado, 23 de junho de 2012

Correio MFC 288


Não tem conexão mas coincide, na Conferência, com a atmosfera de busca de purificação do ar que respiramos e da água que bebemos. Em tempo de aguda percepção das agressões ao meio ambiente biofísico do planeta, acontece uma igualmente aguda e radical limpeza ética no ambiente político do país Brasil.

             Rio+20
Chefes de Estado e de delegações de 193 países reunidos no primeiro dia da reunião de cúpula no Riocentro
Foto: O Globo / Pablo Jacob 

Limpeza do meio ambiente biofísico e... político

O TSE divulgou neste fim de mês uma lista preliminar com 6.917 nomes de agentes públicos impedidos de se candidatar a cargos eletivos nas próximas eleições municipais.Eles são gestores públicos, ocupantes de cargos ou funções que tiveram suas contas julgadas irregulares em caráter definitivo, não cabendo mais recursos. O número poderá aumentar, à medida que se apresentem candidatos. Muitos pensarão duas vezes antes de se apresentar às urnas com justo receio da radiografia dos tribunais eleitorais. De acordo com o presidente do TCU, ministro Benjamin Zymler, o fato não se deve necessariamente ao aumento de práticas de corrupção, mas à fiscalização mais atenta do órgão. "A atuação do tribunal foi ampliada. O aumento não surpreende; ele se deve à maior atuação do tribunal", justificou. Que se mantenha atento e severo, dizem os cidadãos eleitores.

Da outra face da moeda ecológica, nada menos de 193 presidentes e chefes de estado posaram em foto memorável no Riocentro, na véspera de firmarem o acordo duramente discutido por centenas de ministros e autoridades daqueles países, mas decepcionante para muitos governantes e organizações culturais, sociais, educacionais, ambientais. Lamentável a metodologia adotada para a aprovação de um documento único de consenso absoluto.
 
Trabalhos em grupos durante a Rio+20

Para essa unanimidade, preferiram suprimir centenas de disposições apoiadas por muitos e até quase todos países, por alguns terem se recusado a assinar o texto final. Erro crasso Com o simples uso de um computador, cada país registraria se aprovava ou não cada uma das indicações constantes do documento base. O documento final registraria todos os itens com um percentual significativo, prefixado, de votos favoráveis, indicando oscore e facilitando o acesso aos países que votaram contra e a favor de cada um. Bastaria cada votante perfurar um cartão de um programa simples, no final da última rodada de debates.

Temos ainda esperanças de que este procedimento tenha sido adotado e possa a ter sua divulgação exigida pelos países que se sentem frustrados com a mutilação do documento de trabalho, que merecia talvez uma poda mais modesta decorrente de baixa votação de temas excessivamente contundentes para o momento atual. Seriam armazenados para a Rio+40, se o planeta sobreviver até lá.

Passando às ruas. Uma festa da democracia. Passeatas por toda parte atropelam o trânsito e produzem um ruído ensurdecedor. As ruas acolhem todas as reivindicações, protestos, apoios e desapoios de ambientalistas, trabalhadores, índios, MST, estudantes, funcionários da CEDAE por salários dignos, denunciadores de torturas do regime militar... estes foram às severas formas de manifestação: mais de duzentas pessoas se concentraram em frente a um pacato edifício residencial onde mora, com sua família, um torturador dos tempos de chumbo. Nomes de torturados por ele foram berrados em alto-falantes até o limite dos nervos da vizinhança solidária aos manifestantes. Vai-se lavando a alma nessa catarse merecida que transforme em inferno a vida desses carrascos.

*Membro do Movimento Familiar Cristão.


O futuro na perspectiva da Caritas: Todos com fome de justiça, equidade, sustentabilidade ecológica e co-responsabilidade!

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O mundo atravessa, há alguns anos, uma crise sem precedentes que se caracteriza por suas dimensões sistêmicas e internacionais. Esta crise é, na realidade, uma conjugação de várias crises (alimentar, energética, climática, financeira, humanitária, econômica e social), que tem como consequência o aumento das desigualdades, da exclusão, da violência, dos conflitos, das migrações forçadas, do empobrecimento de um número cada vez maior de pessoas e o escândalo de 1 bilhão de pessoas que passam fome.
Frente a esta crise, a Caritas Internationalis, uma confederação mundial de 164 organizações solidárias católicas, reafirma seu enfoque em um desenvolvimento integral humano solidário, entendido como uma perspectiva completa, que leva em consideração a interdependência da família humana e seu bem-estar, em suas diferentes dimensões: econômica, social, política, cultural, ecológica e espiritual, com o fim de alcançar uma sociedade baseada nos princípios de fraternidade, justiça, equidade e solidariedade.
A Caritas defende o enfoque do desenvolvimento humano, por meio do respeito e da realização dos direitos humanos (incluindo o direito ao desenvolvimento). Erradicar a fome, a pobreza e a exclusão são prioridades fundamentais para a Caritas.
Conclamamos a uma mudança de paradigma, a uma nova civilização do amor pela humanidade, que coloque a dignidade e o bem-estar de homens e mulheres no centro de toda ação. Todo compromisso que se assuma na cúpula da Rio+20 deve validar esta perspectiva. Conclamamos os líderes do mundo a enfrentar este desafio, com valentia e confiança, a fim de que esta cúpula seja uma mensagem de esperança para a humanidade, sobretudo para os pobres e excluídos.
"Sem verdade, sem confiança e sem amor pelo verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a atuação social se deixa a mercê de interesses privados e de lógicas de poder, com efeitos desagregadores sobre a sociedade, ainda mais em uma sociedade em vias de globalização, em momentos difíceis como os atuais.” (CiV 5)
No caminho dessa mudança, na qual esperamos que a Cúpula na Rio+20 seja uma pedra angular, cinco elementos/dimensões são fundamentais:
1) Um futuro sem fome
Conclamamos os(as) líderes para fazer da luta contra a fome uma prioridade e assegurar o direito à alimentação. A alimentação é a base para poder desenvolver nossas capacidades e talentos. Sim, como o documento zero afirma, 1/6 da população do mundo está subalimentada (75% deles são pequenos camponeses). Esta mesma população não pode contribuir totalmente para o bem de suas comunidades nem de suas famílias. Estamos desperdiçando importantes recursos humanos, que são essenciais para a saúde do nosso planeta. A única fome que deveríamos sofrer é a fome pela justiça, equidade, sustentabilidade ecológica e corresponsabilidade.
2) Um futuro com visão
Conclamamos a que se mantenha a visão contida nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e o compromisso dos lideres para aplicá-los. Representam hoje um guia para o desenvolvimento sustentável e para um mundo mais justo. É importante aprofundar o sentido desses objetivos com as pessoas mais afetadas adaptando-os às necessidades de hoje. Além disso, é essencial que um marco renovado de tais objetivos contenham compromissos por parte dos países desenvolvidos para que se envolvam na promoção de um modelo de desenvolvimento a favor do bem-estar de toda a humanidade, priorizando a justiça, a equidade, a sustentabilidade ecológica e a corresponsabilidade.
3) Um futuro de cuidados com a nossa casa: A criação
Conclamamos a que a capacidade transformadora do ser humano seja utilizada para o cuidado da criação e se incentivem ativamente projetos, ideias e medidas que cuidem do ambiente. Nossos ambientes de vida, sejam eles rurais ou urbanos, devem caracterizar-se por uma vida digna e sã com máxima sustentabilidade ecológica. O foco de conquista e de exploração dos recursos naturais tem predominado e a se estendido, ameaçando hoje a própria capacidade de acolhida do meio ambiente: o ambiente como ‘recurso’ coloca em perigo o ambiente como ‘casa’. A incontrolada transformação do território pela atividade humana favorece o aumento da vulnerabilidade dos espaços e das sociedades, trazendo também consequências injustas por afetar principalmente os grupos mais pobres e desfavorecidos, que muitas vezes não são sujeitos causadores de práticas arriscadas.
4) Um futuro com o novo marco econômico verde
A Caritas apoia a ideia de uma economia verde, desde que respeite princípios éticos, de equidade e solidariedade. Conclamamos a que a construção de uma visão de "economia verde” não substitua, ou deixe de fora, as premissas correspondentes ao "desenvolvimento humano, integral e sustentável” construídas há décadas, já que existe uma genuína preocupação, da parte das organizações em todo o mundo, de que o novo conceito de "economia verde”, leve em si mesmo o modelo de mercado como eixo fundamental e, por tanto reforça os princípios neoliberais do crescimento como meta; o mercado como gestor da sustentabilidade; o aumento de preços além do imaginável; maior privatização dos bens comuns (água, oceanos, bosques) e planos de ajuste estrutural ambiental. A Doutrina Social da Igreja é definitiva no chamado a buscar novas maneiras de distribuição e a privilegiar a pessoa em toda sua integralidade, sobretudo os sujeitos mais vulneráveis, para que tenham uma vida digna, e isto confronta claramente muitos dos princípios do modelo centrado no mercado. O novo marco econômico não deve centralizar-se na maximização de benefícios, mas deve favorecer o trabalho digno, dando esperança sobre tudo aos milhares de jovens que estão sem trabalho.
5) Um futuro que respeite mulheres e homens criados à imagem de Deus: um novo contrato social
Conclamamos a desenvolver um código de conduta para uma cidadania global solidária, isto significa definir um novo contrato social que leve em conta nossa interdependência e convoque a atuar como cidadãos(ãs) responsáveis pelo bem comum. Todos e todas somos consumidores dos produtos da criação e, como sujeitos responsáveis, podemos optar por maneiras de viver que favoreçam o desenvolvimento, cuide do meio ambiente e reduza os efeitos negativos para os mais pobres. Por isso, propomos um modelo econômico que inclua dinâmicas de democracia participativa e promova a dignidade humana, o desenvolvimento humano sustentável e a distribuição da riqueza. Conclamamos a todas as pessoas de boa vontade a estabelecer uma cultura de respeito e de diálogo que possibilite o acesso aos direitos e à justiça.

Roma, Junho de 2012
Caritas Internacional
http://www.caritas.org

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