Sinais do Reino
Helio Amorim*
O primeiro a destacar veio do STF: aprovada a reserva de vagas nas universidades do governo para matrícula de pretos e pardos, com dez votos a favor e um único contrário. O ministro Marco Aurélio de Melo considerou inconstitucional esse favorecimento com base na cor da pele. Na verdade é um reconhecimento tardio e ainda insuficiente de injustiça histórica a reparar. Por um mecanismo de reprodução social perverso, pobres e ricos têm descendências imersas nas suas respectivas classes socioeconômicas, com possibilidades limitadas de ascensão ou queda por razões óbvias: o filho das classes privilegiadas já nasce com cuidados de saúde e alimentação, logo terão oportunidades de educação de qualidade desde a primeira infância, não serão obrigados a lutar desde os seis anos pela sobrevivência econômica da família vendendo balas nos sinais de trânsito com prejuízo insanável da freqüência escolar.
Ocorre que predominam nas classes mais pobres, famílias herdeiras do crime hediondo da escravidão. Seus antepassados foram sequestrados de sua terra e cultura, transportados como animais, deixando mortos na travessia atlântica e vendidos os sobreviventes aos donos de terra como escravos, marcados como gado pelos seus proprietários. A libertação desse jugo infame foi adiada por dois séculos. Finalmente tornam-se cidadãos de classe muito pobre entregues à própria sorte numa sociedade com predomínio absoluto de brancos.
Prossegue a reprodução social, pobres gerando pobres numa ciranda social malvada a ser rompida por intervenções corajosas que vêm sendo praticadas ainda timidamente pelos governos. Aqui se insere agora a questão das cotas nas universidades. Mas falta muito para que essa reprodução social seja totalmente superada. Pretos e pardos são minoria nas atividades profissionais mais valorizadas no mercado de trabalho e predominam em precários aglomerados habitacionais.
O IBGE acaba de divulgar números do Censo de 2010. Cidadãos de cor só ganham mais que os brancos em 4% das 438 profissões pesquisadas. Políticas de promoção e igualdade social devem ser mais ousadas, enfrentando purismos constitucionais duvidosos do ministro do contra.
Outra conquista estimulante vem da área política. O senador Demóstenes foi desmascarado de seu desempenho de falso paladino da moralidade nacional. Por acaso. O investigado pela Polícia Federal era o capo de uma quadrilha de múltiplos tentáculos no país e no exterior. Carlinhos Cachoeira e sua gang está preso até que um caro advogado consiga emplacar um hábeas corpus. Algum generoso juiz não negará essa liberdade a um bicheiro milionário, dono de rede de cassinos com o habitual subproduto da prostituição de luxo, tendo ligações suspeitas no mundo político e empresarial.
Em mais dois anos, a limpeza se completará com as eleições federais e estaduais. O país vai ficar diferente. O povo já havia se conformado com “a política é assim mesmo”. Não é mais. Surpresas emocionantes vão acontecer, embora haja manobras estranhas de políticos assustados com a possibilidade de respingos em suas cabeças.
Cabe ainda neste espaço uma expectativa prestes a ser realidade: projeto de lei vai sendo aprovado no Congresso e deverá chegar logo à sanção presidencial.
Estes são sinais do Reino. É o que esperam todos os brasileiros. Assim seja.
*Membro do Movimento Familiar Cristão.
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Para refletir
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Se aceitamos que ser cristão é seguir Jesus, devemos tomá-lo como modelo de humanização e de ação humanizadora num mundo que se apresenta desumanizado e desumanizante.
Para compreendermos e aceitarmos Jesus como modelo para homens e mulheres de todos os tempos, temos que compreender e aceitar a sua humanidade verdadeira. Jesus assume plenamente as limitações humanas, tornando-se igual a nós, em tudo menos no pecado.
Essa diferença única quer significar que Jesus nunca se colocou contra o projeto de Deus, como o fazemos com infeliz freqüência.
Então, Jesus nasceu carente e indefeso, precisando dos cuidados diligentes de seus pais para sobreviver, aprender a andar, a se alimentar, a ler e escrever, como qualquer ser humano. Assim foi desenvolvendo sua personalidade, sob os mesmos impulsos que nos animam. Sua natureza divina não interferia em sua natureza humana, como é afirmado pelos cristãos, oficialmente, desde o Concílio de Calcedônia*:
Esse Concílio se preocupou em deixar isto claro, pois muitos cristãos entendiam a humanidade de Jesus como uma farsa, uma encenação preparada por Deus para fingir-se homem, desempenhando um papel em que as limitações humanas não passariam de mera representação teatral para apenas transmitir uma mensagem ensaiada antecipadamente.
Se assim fosse, Jesus não poderia ser modelo para o homem comum.
* "Na linha dos santos Padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade, o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, "semelhante a nós em tudo com exceção do pecado"(Hb4,15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da Virgem Maria, mãe de Deus, segundo a humanidade. Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A diferença das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só pessoa e uma só hipóstase." (DS 301-302)."O Concílio de Calcedônia foi convocado pelo imperador bizantino Marciano no ano 451 e contou com a participação de 350 bispos (algumas fontes fazem referência a 520 bispos), e tornou-se a assembleia mais importante ocorrida até então na história do Cristianismo.
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Documentos do Concílio Vaticano II – “Gaudium et Spes”
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A colaboração de todos na vida política
75. (...) Todos os cristãos tenham consciência da sua vocação especial e própria na comunidade política; por ela são obrigados a dar exemplo de sentida responsabilidade e dedicação pelo bem comum, de maneira a mostrarem também com fatos como se harmonizam a autoridade e a liberdade, a iniciativa pessoal e a solidariedade do inteiro corpo social, a oportuna unidade com a proveitosa diversidade. Reconheçam as legítimas opiniões, divergentes entre si, acerca da organização da ordem temporal, e respeitem os cidadãos e grupos que as defendem honestamente. Os partidos políticos devem promover o que julgam ser exigido pelo bem comum, sem que jamais seja lícito antepor o próprio interesse ao bem comum.
Deve atender-se cuidadosamente à educação cívica e política, hoje tão necessária à população e sobretudo aos jovens, para que todos os cidadãos possam participar na vida da comunidade política. Os que são ou podem tornar-se aptos para exercer a difícil e muito nobre arte da política, preparem-se para ela; e procurem exercê-la sem pensar no interesse próprio ou em vantagens materiais. Procedam com inteireza e prudência contra a injustiça e a opressão, contra o arbitrário domínio de uma pessoa ou de um partido, e contra a intolerância. E dediquem-se com sinceridade e equidade, mais ainda, com caridade e fortaleza política, ao bem de todos.
O Concílio convoca os cristãos a se prepararem para atuar na vida política do seu país. Para isso servem as escolas e universidades católicas – ou não servem para nada.
Atuar politicamente não se limita a militância partidária formal mas inclui toda participação em estruturas sociais intermediárias comprometidas com a humanização de pessoas, com a proteção do meio ambiente, com as lutas por mais justiça social.
O Movimento F a mili a r Cristão (MFC) congreg a 8 mil f a míli a s no Br a sil e cerc a de 100 mil nos cinco continentes. Atr a vés dess a s f a míli a s cristãs dedic a -se a a nunci a r e lut a r por um mundo m a is justo e fr a terno no qu a l tod a s a s f a míli a s poss a m exercer com dignid a de a su a missão de form a r pesso a s e tr a nsmitir su a fé, v a lores hum a nos e espiritu a is, denunci a ndo os mec a nismos soci a is e econômicos que conspir a m contr a ess a construção que Jesus ch a mou de Reino de Deus. O MFC é de Utilid a de Públic a Feder a l e foi reconhecido por Decreto do V a tic a no como entid a de de fiéis de direito priv a do a nível mundi a l.
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