quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Correio MFC 308


Os pobres, hoje, incomodam muitos, comovem outros. Muitos se tornam indiferentes diante da dor e dos clamores dos pobres. Uns pensam que basta fazer filantropia. Outros se comprometem com a causa dos pobres e por eles doam a vida.  Como o evangelho de Lucas e o livro de Atos dos Apóstolos encaram os pobres?


Os pobres na obra de Lucas.
E em nós?
Fr. Gilvander Luís Moreira*

pobreza.jpg
Os retirantes – de Cândido Portinari
No evangelho de Lucas (Lc) os pobres não são espiritualizados, como o evangelho de Mateus pode sugerir à primeira vista, mas têm conotações concretas. São carentes economicamente, marginalizados e excluídos socialmente. Não têm relevância na sociedade. Os Atos dos Apóstolos (At), 2º volume da obra lucana, aprofundam mais essa radicalidade. O apóstolo Pedro, por exemplo, declara-se em absoluta pobreza, não tendo nem prata e nem ouro, mas somente a Palavra que revigora e reanima os cansados (At 3,6).

O contraste entre ricos e pobres transcende as dimensões socioeconômicas. A categoria pobre compreende presos, cegos, oprimidos (Lc 4,18), famintos, desolados, aborrecidos, difamados, perseguidos, marginalizados (Lc 6,20-22), coxos, leprosos, surdos e até mortos (Lc 7,22). Para a ideologia hegemônica, que é sempre a da classe dominante, pobres são a escória, os dejetos e a imundície da sociedade. São usados e não amados. A riqueza é, quase sempre, uma armadilha mortal para a pessoa humana, pois, muitas vezes, envolve a pessoa em um processo de desumanização, ao prometer estabilidade, reforçar a autossuficiência e causar muitas injustiças.
No evangelho de Lucas, as bem-aventuranças têm uma orientação social (Lc 6,20-23). Dirigem-se aos discípulos como os verdadeiramente pobres, famintos, aflitos, injustiçados e excluídos do mundo onde há organização para uma minoria e caos para a maioria. Lucas não tende a espiritualizar a condição dos seus discípulos, como à primeira vista faz Mateus nas bem-aventuranças (Mt 5,1-12). As prescrições que Mateus acrescenta — pobres em espírito, fome e sede de justiça — respeitam a condição de diversos membros da comunidade mista a quem a narração evangélica é dirigida. Em Lucas a pobreza, a fome, a aflição, o ódio e o exílio caracterizam a situação concreta e existencial dos discípulos e das discípulas de Jesus Cristo, que é quem Jesus declara feliz.
No evangelho segundo Lucas aparece nitidamente uma opção pelos pobres, contra a pobreza. Os ricos não são excluídos a priori, mas são convidados a abandonar a idolatria do capital e do poder e a tornarem-se pobres. O servo sofredor padre Alfredinho dizia: “O mundo vai virar um paraíso no dia em que os ricos desejarem passar fome”. Lucas é duro contra os ricos e a riqueza (Lc 6,24).
“Cuidem dos enfraquecidos!” (At 20,35). Eis um apelo forte do apóstolo Paulo no seu testamento espiritual, escrito por Lucas, que conservava na mente e no coração a imagem de Paulo como alguém que dava atenção especial aos empobrecidos. É provável que nas comunidades de Lucas, no fim do século I, um desejo grande de fidelidade ao passado estivesse gerando esquecimento dos empobrecidos e excluídos. Estes nem sempre podem respeitar as regras da comunidade. Para Paulo, o sinal por excelência da autenticidade do ministério era o amor desinteressado e gratuito aos pobres.  Essa opção aparece de modo muito eloquente quando Paulo diz às comunidades de Antioquia que a única coisa que a Assembleia de Jerusalém fez questão de alertar foi:
“Nós só deveríamos nos lembrar dos pobres...” (Gálatas 2,10). No discurso aos presbíteros, em At 20,17-35, Lucas alerta para o cuidado com os pobres, porque provavelmente os presbíteros estavam preocupando-se menos com aqueles e agindo mais como “os falsos pastores que apascentam a si mesmos e devoram as ovelhas” (Ezequiel 34,8-10). Estariam eles gastando mais energias com os ritos do que com a promoção humana dos excluídos e com a luta por justiça?
A teologia lucana propõe uma mística evangélica que seja uma Boa Notícia para os pobres, isto é, para cegos, surdos, mudos, presos, alienados, doentes e pecadores; enfim, para marginalizados e excluídos. Lucas é muito realista, porque percebe que a Boa Notícia para os pobres é, normalmente, péssima notícia para os opressores e violentadores dos pobres. Lucas defende não toda e qualquer notícia, mas apenas aquela que traz qualidade de vida para todos e para tudo, a partir dos oprimidos.

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjdGOjLJ3ZAihkhUw0EegmwOgE1IFtFqRhaEAt2Qx9Y18fULGZrwAQCYVGvXVh-MqewA7N5kXFQnTDQYNl5X9gEfjLtANMXmOHxDwXEhdK2zxJi4HMhidaKIrC-fDODeKDuyK7ET7ZgKQvk/s1600/jesus+e+o+homem+da+m%25C3%25A3o+seca.bmp
Jesus de Nazaré, segundo Lucas, encontra-se com os pobres e com eles se compromete. Sua vida, que conhecemos também por suas posturas e ensinamentos, caracteriza-se por encontros com pessoas do seu círculo de amizade e com pessoas do mundo dos excluídos. Jesus foi sempre um inconformado com as injustiças e com os sistemas injustos, um sonhador que cultivava a utopia bonita do Reino de Deus no nosso meio.
Jesus tinha os pés no chão, mas o coração nos céus. Era um profeta, alguém sensível, capaz de captar os sussurros e os apelos de Deus por meio das entranhas dos fatos históricos. O Galileu foi uma testemunha, um mártir, que não apenas disse verdades, mas doou a vida pelas verdades que defendia.
Jesus e seu movimento, em uma postura altamente irreverente, deixam-se envolver, apaixonar-se, compadecer-se pelo povo sofrido e revelam um grande esforço de transformação. Desmistificam o que é mistificado pelo senso comum. Des-idolatram deuses e ídolos que concorrem em uma imensa gritaria tentando seduzir as pessoas para projetos escravizadores. Des-sacralizam o poder, desmascarando o poder religioso, o político e o econômico que, endeusados, promovem grandes atrocidades. Des-dualizam a forma de encarar a realidade — com Jesus, “o véu do templo se rasga” (Lc 23,45) e “ninguém deve chamar de impuro aquilo que Deus criou” (At 10,15). Não há mais separação entre puro e impuro, entre santo e pecador, entre transcendência e imanência, entre dentro e fora, entre sagrado e profano, entre céu e terra, entre humano e animal etc. Tudo e todos são banhados pela dimensão divina e transcendente da vida. Em cada um(a) de nós estão o feminino e o masculino, o bem e o mal, o sagrado e o profano.
Enfim, oxalá esta rápida retrospectiva sobre a relação de Jesus e seus discípulos/as com os pobres nos inspirem na construção de uma sociedade para além do capitalismo e para além do capital.
*Frei Gilvander Luís Moreira



gilvanderr@igrejadocarmo.com.br - www.gilvander.org.br




Economia e Política



Recordes no trabalho (IBGE): desemprego médio no ano de 5,5% em 2012 é o menor em 10 anos. No final do ano ainda baixou para 4,7%. O total de ocupados atingiu a marca inédita de quase 23 milhões de pessoas com emprego formal. Renda subiu 4,1%, maior alta na década. O rendimento médio dos brasileiros foi estimado em cerca de 1.800,00 reais, crescendo 4,1% em relação a 2011. O salário mínimo aumentou 14%, a maior alta em 10 anos. (O GLOBO - 12/02/13). Uma boa notícia.

http://www.mulheresnopoder.com.br/wp-content/uploads/2011/05/carteira-de-trabalho.jpg


http://t2.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcT_7tkE8Xj2EtuKat6jUuPLIra7pt4yDLUIBFJsLAgw0qHB4dk1O acordo para a eleição do comando do Congresso Nacional: alegria geral
O Senado Federal e a Câmara dos Deputados elegeram Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves para presidir as duas casas do Congresso Nacional, num acordo de bastidores entre líderes do governo e da oposição, com voto secreto envergonhado. Dispensado o rigor da “ficha limpa”. Será somente exigida dos candidatos em 2014. Líder do mesmo partido será o deputado Eduardo Cunha, com currículo conhecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário